Faça em casa a técnica com cerâmica quebrada para virar peça de decoração de luxo

Técnica japonesa de DIY com Kintsugi – Imagem gerada com auxílio de IA

Um prato que era lembrança de família, um vaso de feira de artesanato ou aquela xícara favorita podem virar dor no coração quando se espatifam no chão. Em geral, o reflexo é juntar os cacos rápido e jogar tudo fora, como se o objeto tivesse deixado de ter valor no exato momento da quebra.

A técnica japonesa do kintsugi propõe o contrário: em vez de esconder a rachadura, transformar a emenda no ponto mais bonito da peça. Com uma versão adaptada e acessível, dá para experimentar esse “luxo acidental” em casa, sem materiais raros nem prática profissional em cerâmica.

O que é kintsugi e por que ele valoriza o quebrado

Na tradição japonesa, kintsugi significa algo como “emenda de ouro”. A técnica surgiu como forma de restaurar cerâmicas valiosas usando laca e pó de ouro, prata ou platina. Em vez de tentar disfarçar o acidente, o reparo é assumido, destacado e integrado à história do objeto.

Essa ideia conversa com a filosofia Wabi-Sabi, que enxerga beleza na imperfeição e no tempo que passa. Em termos visuais, o resultado é uma peça com veios dourados marcando antigas rachaduras, como se fossem cicatrizes preciosas. Em termos simbólicos, é um jeito de lembrar que nem tudo que quebra precisa ser descartado.

Por que a estética do kintsugi virou tendência de decoração

Na decoração contemporânea, peças com kintsugi chamam atenção por parecerem únicas. Um prato de linha de produção, depois de reparado com emendas douradas, deixa de ser “mais um” na prateleira e passa a ter identidade própria.

Designers de interiores apontam que esse tipo de objeto funciona bem como ponto de destaque em ambientes neutros: um vaso com veios dourados sobre um aparador simples, um prato emoldurado na parede, uma bandeja com cicatrizes metálicas em cima de uma mesa de centro. A combinação de algo claramente quebrado com um acabamento de “joia” cria contraste de sofisticação sem ser óbvio.

Materiais para fazer kintsugi caseiro sem gastar muito

O método tradicional de kintsugi usa laca urushi (seiva de árvore que pode causar alergia) e ouro em pó verdadeiro, em um processo demorado. Para uma versão caseira, segura e possível no dia a dia, uma adaptação com resina epóxi e pigmento dourado costuma funcionar muito bem para fins decorativos.

Kintsugi – Créditos: depositphotos.com / adobe48015

Em geral, é suficiente ter:

  • uma cola epóxi transparente de dois componentes, que endurece em poucos minutos
  • um pigmento dourado em pó, como mica, purpurina extrafina ou pó metálico para artesanato
  • palitos de madeira ou espátula pequena para misturar e aplicar

Se a peça for usada apenas como objeto decorativo, essa combinação costuma bastar. No caso de pratos ou canecas que entrarão em contato com alimentos, é importante buscar resinas classificadas como seguras para uso alimentar depois da cura completa e, ainda assim, usar com cautela.

Passo a passo para transformar cerâmica quebrada em peça de destaque

Organizar o processo ajuda a evitar frustração. Em vez de tentar resolver tudo correndo, vale reservar um tempo tranquilo e seguir etapas claras.

Imagem gerada com IA de técnica japonesa de Kintsugi DIY
  1. Separar e preparar os cacos
    Recolher os fragmentos com cuidado, para não se cortar, e montar um “quebra-cabeça” a seco, sem cola, só para entender onde cada peça encaixa. Isso ajuda a definir a ordem de colagem. Em seguida, limpar as bordas dos cacos com um pano levemente umedecido em álcool, retirando poeira, gordura e restos de sujeira. Bordas limpas aderem melhor à cola.
  2. Preparar a mistura dourada
    Em um pedaço de papelão ou pratinho descartável, colocar quantidades iguais dos dois componentes da cola epóxi. Antes de misturar, polvilhar uma pequena quantidade do pigmento dourado sobre um dos componentes. O segredo é não exagerar: pigmento demais pode comprometer a força da cola. A ideia é chegar a um dourado visível, mas ainda com textura viscosa, própria para aderir à cerâmica.
  3. Colar os primeiros fragmentos
    Com um palito de madeira, misturar bem cola e pigmento até a cor ficar homogênea. Aplicar uma camada na borda de um dos cacos e unir à peça correspondente, ajustando a posição com calma. A cola epóxi costuma permitir alguns minutos de ajuste antes de endurecer. É até desejável que um pequeno excesso de cola transborde para fora da rachadura, porque é esse “filete” que vai formar a marca dourada.
  4. Repetir o processo em etapas
    Em peças muito quebradas, é melhor colar dois ou três cacos de cada vez, aguardar a cola começar a endurecer e só então seguir para o próximo conjunto. Tentar montar tudo de uma vez aumenta o risco de a estrutura ceder. Em peças menores, muitas vezes é possível completar a colagem em uma única sessão, sempre verificando se as emendas estão bem apoiadas enquanto secam.
  5. Deixar a cola curar com paciência
    Depois que todas as partes estiverem unidas, deixar a peça descansando em local seguro, sem manuseio. Em cerca de uma hora, a maioria das colas já estará firme ao toque, mas a cura total costuma levar pelo menos 24 horas. Respeitar esse tempo é fundamental para que o reparo ganhe resistência. Só depois disso a cerâmica deve ser movimentada com mais liberdade ou receber água, no caso de vasos.

Durante o processo, é possível usar um cotonete ou o próprio palito para alisar ou ajustar o relevo da cola dourada. Mesmo assim, linhas tortas e texturas irregulares costumam fazer parte do charme dessa estética.

Cuidados de segurança e limites da técnica caseira

Resinas epóxi podem liberar cheiro forte durante a mistura e, em alguns casos, causar irritação em peles sensíveis. Por isso, é recomendável trabalhar em ambiente ventilado, evitar contato direto prolongado com a cola e usar luvas simples de proteção quando possível.

Para peças decorativas, como vasos, esculturas ou pratos que ficarão apenas expostos, a técnica adaptada atende bem. Já para objetos de uso intenso, que vão ao forno, micro-ondas ou máquina de lavar louça, a durabilidade e a segurança do reparo diminuem. Nesses casos, pode ser mais interessante assumir a peça apenas como elemento decorativo.

🔒 Crédito: Este artigo foi publicado originalmente por Kátia Ribeiro. Reprodução total ou parcial sem autorização é proibida por lei.